quinta-feira, 24 de junho de 2010

Dunga é nada mais que um brasileiro



Não tive tempo para escrever tudo o que penso sobre este episódio. Mas não quero me postar à margem do que, espero, seja uma das ondas mais positivas a sacudir os oceanos da Internet desde o surgimento da própria Internet para nós brasileiros. Por isso, comecei assim, de pronto, sem muita racionalização. Contudo, evitando 'os calores' do debate, o envolvimento com esta ou aquela ideologia e etc.

O ato de Dunga vai além do futebol e talvez nem ele saiba disso. Embora eu queira muito descobrir o contrário e construir, posteriormente, uma admiração ainda maior por ele. Sem panfletos de "fora Globo" ou "Globo mente" (e por aí vai), penso que você e eu poderíamos nos deter a um fato que tem as qualidades necessárias para ser referenciado em qualquer debate cujo tema seja o regime de concessões públicas para a operação de emissoras de rádio e televisão no Brasil. Um questionamento sobre o que é feito com um bem oferecido gratuitamente pela sociedade brasileira aos grupos de comunicação e sua contrapartida no sentido de nos oferecer um produto comunicacional que atenda as demandas de um país como o nosso, que melhorou muito, mas ainda não está equilibrado.

Emprestamos dinheiro, mas uma parcela significativa do nosso povo não sabe ler nem escrever. Temos cientistas de ponta, mas também esgotos a céu aberto. Temos tudo, mas ao mesmo tempo parece termos quase nada do que realmente comprovaria nossa dignidade social.

Televisões e rádios são instrumentos poderosíssimos. Transcendem obstáculos naturais, geografias dificultosas e dificuldades financeiras. Estão cada vez mais baratos e, também por isso, na maioria das moradias do Brasil, diante da maioria das pessoas que aqui vivem. Enfim, são a porta aberta a convidar qualquer profissional da Comunicação a entrar. Olhos e ouvidos atentos, reverentes e crédulos.

O convite é aceito. Eles entram mas levam consigo nada diferente do entretenimento barato, da construção de um cotidiano violento, pessimista e sem amor. Quando partem no sentido oposto, são piegas como o pior dos livros de auto-ajuda. Não ensinam a pensar, moldam pensamentos. Há exceções, mas poucos assistem e poucos patrocinadores se dispõem a investir.

Não acredito e não vejo verdade no que diz este profissional, neste vídeo. Não acredito que o mundo em que vivo é unicamente este, apresentado todos os dias pela emissora em que ele trabalha e por outras também. Penso que Dunga está a provocar algo muito maior que o futebol. Muito mais valioso do que este conceito de esporte ligado à nova religião do consumo. Não perdendo o trocadilho boleiro: Dunga deu apenas o pontapé inicial.

Sociedade de massa, comunicação de massa e poucos indivíduos, pouca diversidade. Defendo e procuro proteger o valor da diferença de opinião. Entendo que não há verdade única a não ser o amor. Mas também resguardo o direito que tenho, como cidadão brasileiro, a querer algo melhor no uso daquilo que é meu.

Ao menos, gostaria que pleiteássemos um debate em torno deste tema: a concessão de espaços públicos para a exploração de rádio e televisão. Porque, até agora, de público me  parece haver nada.

Dunga é nada mais que um brasileiro, assim como o somos. Você e eu.

Um comentário:

Anônimo disse...

A questão da concessão é um problema, outro, pelo menos para mim, é a questão da exclusividade. Prega-se a liberdade de imprensa, mas nega-se a liberdade de escolha por parte dos cidadãos. A exclusividade de uma máteria, que na maioria das vezes é do interesse público, faz com que vejamos apenas uma versão, uma opinião e o mundo esta cheio delas.
Por isso um Viva a Internet!